Uma preciosidade de 30 cm em Itu

Deparar-se com verdadeiras raridades em esculturas não é privilégio extraordinário, é algo até comum para quem lida com essa arte, diz o pesquisador da cidade de Itu, Marcelo Coimbra. Porém, mesmo que corriqueira, sua recente descoberta foi surpreendente e emocionante, ele confessa. Marcelo Coimbra encontrou, numa imagem mineira e barroca de Jesus Cristo crucificado, uma obra atribuída por ele e pelo pesquisador Márcio Jardim ao grande mestre Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. A imagem do Cristo que parece dançar, apelidada de Cristo Bailarino, está em sua residência à espera de um momento oportuno para ser exibida ao público. "Temos que esperar passar o período das eleições e temos que preparar a segurança e todo o aparato que envolve uma exposição do grande mestre", diz Coimbra, que revela a possibilidade de expô-la em Curitiba, no Paraná e em Minas Gerais. O pesquisador considera a aparição dessa escultura um resgate da brasilidade, da teatralidade barroca e da beleza.
A imagem do Cristo chegou até Marcelo como tantas outras já chegaram. "Fiquei sabendo da obra de um colecionador, que prefere se manter em segredo. Peguei a imagem para estudá-la, preservá-la e vi que a escultura tinha um braço numa cor diferente do restante do corpo. Aquela parte não pertencia à obra original. Quando tirei a imagem da cruz, notei que o perizonium, o pano da parte inferior do Cristo, deixava desnuda a parte de trás do corpo. Logo vi que se tratava de mais uma audácia de Aleijadinho", comentou. A autenticidade da peça também é defendida por Márcio Jardim, historiador e autor, com Marcelo Coimbra e Hebert Sardinha Pinto, da publicação "Aleijadinho - Catálogo Geral da Obra Inventário das Coleções Públicas e Particulares", resultante de mais de 20 anos de trabalho. "Márcio é mineiro e é ele o responsável pelo teor científico desse trabalho."
O Cristo Bailarino mede 30 cm, em madeira com vestígios de policromia. O rosto é semelhante ao Cristo crucificado do Museu do Aleijadinho em Ouro Preto/ MG. Segundo os pesquisadores, foi feita entre os 1770 e 1790, período que corresponde à terceira das cinco fases que Aleijadinho apresentou em todo seu trabalho. Marcelo Coimbra recorda a história. "O artista começou a apresentar algumas limitações físicas por conta de um problema de saúde, aos 47 anos, por volta de 1770, conforme a biografia de Bretas, nora de Antônio Francisco Lisboa. Aleijadinho foi o apelido surgido nessa fase. Nessa biografia, consta que o escultor gostava de frequentar casas de dança.
De certa forma, pela impossibilidade de dançar, ele transferiu para sua arte esse gosto, esse desejo." Segundo Coimbra, Os Doze Profetas, conjunto de esculturas em pedra sabão, estariam também num bailado. "Há mais de 10 anos, eu esperava me deparar com suas obras de forma dançante", confessa. "E Cristo veio até mim, desceu da Cruz e dançou na minha frente", disse o garimpador de raridades, como Marcelo define sua profissão de pesquisador de arte.

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